Que ninguém se sinta obrigado a ler este blog... a sério, só o fiz para ver como é, para publicar aquilo que me vem à cabeça... o que nem sempre é interessante. Ne vous sentez pas obligés de lire ce blog... je l'ai fait uniquement comme expérience, pour publier ce que je considère intéressant. Et tout est relatif. Surtout l'intéressance. Bref, bienvenue à mon blog! Bem-vindos ao meu blog!

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Luz

Ontem à noite enquanto eu estava a jantar passou a minha mãe no corredor: "Passo a vida a apagar luzes!". É mais uma daquelas frases que depois me ficam a trautear na cabeça. Sobretudo a um dada hora da noite, em que quero dormir (e TENHO de dormir por causa do exame do dia seguinte) mas o meu cérebro funciona a 300 à hora e não há meio de parar de pensar.
Fez-me lembrar aqueles senhores do século passado (ou de há dois séculos atrás?) que passavam na rua ao cair da noite para acender os candeeiros a gás e de madrugada para os apagar. Afinal também há, ou houve, que passe a vida a pagar luzes... Também fiquei a pensar em como o conceito de luz, e a sua utilização, evoluíram.

Há já alguns anos (não me lembro de quantos milhões) o ser humano descobriu e aprendeu a controlar o fogo (o Homo Erectus, não era?) e desde essa altura o fogo ficou sinónimo de presença humana, protecção contra o frio e os animais selvagens. Também era fonte de luz, essencial para o Homem. Aquela presença indispensável para a sobrevivência assim como o movimento perpétuo das chamas tinham algo de mágico. O fogo tanto pode ser símbolo de Luz, de Vida (de sobrevivência) como de queimadura, incêndio, morte. Na Bíblia o fogo é visto como elemento regenerador. Também pode ser usado para desinfectar feridas, ou queimar ervas daninhas para tornar o campo mais fértil. Neste caso, elemento regenerador no sentido de destruir o que é nocivo para dar lugar a… a quê? [fiquei sem palavras... são coisas que acontecem.] (também poderia fazer alusão aos autos de fé). Mas estou-me a afastar da luz.
Antes usava-se portanto o fogo como fonte luminosa, actualmente temos a luz eléctrica. Lembro-me de testemunhos, em livros, sobre africanas que sempre viveram em "palhotas", nas suas "reservas", e que descobrem a luz eléctrica das grandes cidades:

«Elle n'était pas encore en sécurité, loin de là, mais elle était entourée de dangers familiers. Après tout le temps passé dans la brousse, elle les trouvait bien moins angoissants que les mines terrestres. Elle songea à grimper à un arbre pour y atteindre l'aube, mais quelque chose attira son regard dans le noir.
C'était une lumière, une lumière brillante. Elle brillait plus que cent feux. Elle venait de la première maison au-delà de la frontière du Zimbabwe.
[...]
Pleine d'émerveillement, Nhamo se fraya un chemin dans la forêt. Il y avait plusieurs lumières fixées au toit d'une grande maison carrée et elles illuminaient une prairie entourée d'une clôture. Nahmo essaya de les regarder directement mais elles brillaient trop. Elles lui faisaient mal aux yeux.»
Elle s'appelait Catastrophe, de Nancy Farmer

«Devo ter dormido durante horas, apesar de ser acordada em sobressalto cada vez que a camioneta dava um salto maior, porque quando despertei mesmo, já anoitecia. Olhei em frente e deparou-se-me uma vista perfeitamente mágica. Ao longe, na distância, estendia-se uma enorme extensão de luzes. Luzes bonitas, de todas as cores. Umas mexiam-se, outras acendiam e apagavam. Eu nunca tinha visto nada assim.
- Olhem! Olhem! – gritei eu, abanando as outras para acordarem. – Olhem! Não há lua. Então de onde vem esta luz toda? – Nas Montanhas Nuba não havia electricidade e, portanto, eu pensava que toda a luz tinha de vir do sol, da lua, ou então de uma fogueira.
[...]
Tivemos de nos segurar com toda a força. Algumas casas tinham muitos andares, todos com as janelas iluminadas por uma luz brilhante, amarela. Mas eram os candeeiros de iluminação pública que mais nos intrigavam. Passávamos por essas filas de postes pretos plantados no cimento, com luzes redondas no topo, como se fossem sóis pequeninos. Não fazíamos a mais pequena ideia do que seriam.
- Olhem! Olhem! – gritei eu de novo. – Essa árvores devem dar frutos de luz! Vamos chamar-lhes «árvores-luz».»
Escrava de Mende Nazer e Damien Lewis

No entanto, actualmente há a preocupação de poupar energia (daí a minha mãe a apagar as luzes todas quando chega a casa) e talvez até haja luz a mais. É com efeito cada vez mais difícil encontrar um lugar adequado para ver as estrelas, sem "poluição luminosa" (expressão deveras reveladora...). Lembro-me também de um amigo dos meus pais, suíço (oriundo desse "primeiro mundo" que é a Europa do Norte =P), maravilhado com Alfama à noite, com os seus candeeiros de luz fraca e amarelada sem ainda meios suficientes para ter aquela luz branca, lívida, violenta, das lâmpadas de néon e dos candeeiros modernos.

Com efeito, para quê tentar imitar a luz do dia durante a noite? Para quê gastar tanta energia se estes candeeiros antigos de Alfama são suficientes para se poder ver os próprios pés e as fachadas das casas? Por questões de segurança? Não é por os candeeiros serem fortes que deixa de haver recantos sombrios susceptíveis de esconder qualquer intenção nefasta. Até os tornam mais sombrios ainda. Há esse "medo do escuro" e da penumbra que torna uma luz quase violenta (falsa imitação do dia e do sol) reconfortante... Já agora mais vale tirar partido da capacidade natural que têm os olhos humanos para se adaptarem ao escuro, em vez de a inibir.

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