Que ninguém se sinta obrigado a ler este blog... a sério, só o fiz para ver como é, para publicar aquilo que me vem à cabeça... o que nem sempre é interessante. Ne vous sentez pas obligés de lire ce blog... je l'ai fait uniquement comme expérience, pour publier ce que je considère intéressant. Et tout est relatif. Surtout l'intéressance. Bref, bienvenue à mon blog! Bem-vindos ao meu blog!

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

anonimato

Hoje de manhã saí de casa para a faculdade. Cedinho, ainda não havia ninguém na rua e ainda não se sentia o cheiro a pequeno-almoço. (Pois, porque em Afama cheira-se a comida à hora das refeições, sopa, carne assada, peixe grelhado, etc… ou café, torradas…). Ia portanto a descer a rua para a autocarro, em zigzag entre passeio (molhado, escorregadio, com uma inclinação de 45º para a direita) e a estrada (cheia de cocós de cão, vá-se lá saber porquê, e com carros de vez em quando, mas menos inclinada e menos escorregadia), passaram-me à frente vários jovens (tipo nos vintes, quase trintas), altos, de mochila às costas, a dar grande passadas. De repente abre-se a porta de um prédio, mesmo na altura em que eu ia a passar e sai outro gigante. Eu olho para ele (apanhei um susto com a porta a abrir-se assim de repente), ele olha para mim (violinos), continuei a andar e ele passou-me à frente com as tais grandes passadas. Era negro, alto, de mochila e tinha óculos. Via-o a andar lá à frente, enfim, descíamos os dois a rua, a uns dez metros de distância um do outro e vejo-o a virar à esquerda, para umas escadinhas por onde costumo descer (shortcut) para apanhar o autocarro. Sigo-o, que remédio, e instala-se algum embaraço: eu com a desagradável sensação de quem segue sem querer (neste caso sem alternativa) alguém, sentindo que esse alguém tem a sensação de estar a ser seguido mas tenta disfarçar. Espero ter-me feito entender. Ouviam-se os nossos passos a descer as escadas e a ruela. Ao chegar à rua principal (aquela do ISPA) penso: é um ISPAíno, vai virar à esquerda. Não, vira à direita, como eu. Decido atravessar a estrada. Ele atravessa também e passa-me à frente. Ao virar da esquina vejo-o a correr para apanhar o 90. Que pára nos Restauradores. É o que eu quero. Corro também. No autocarro sento-me no fundo. Nos Restauradores ele levanta-se. Saímos os dois. Ele parte noutra direcção e eu entro no Metro. Vejo-o a aparecer por outra entrada. No cais, fico numa das pontas (é o que dá mais jeito a quem depois apanha o comboio em 7rios), vejo-o a ir para o meio, começo a pensar no meu horário e na teórico-prática de Bioquímica (que acabei por não ter, levantei-me às tantas para nada), chega o metro, entro, blablabla. Jardim Zoológico. Saio do metro, com a multidão matinal, e quem é que me passa à frente ao subir as escadas? Foi aí que o vi diluir-se e desaparecer no mar de gente. Ao chegar à Linha 4 (comboio para Coina, lindo nome...) olhei à minha volta. Não podia deixar de fixar estupidamente todos os indivíduos negros, altos, de óculos, mochila. Pena não ver ao longe. Penso que se o reconhecesse no cais do outro lado da linha até lhe acenava. Ou ficava a olhar para o chão, constrangida por este anonimato citadino que todos temos a mania de manter a todo o custo. Ou então sacava do telemóvel a ver de sms. Inutilmente desligado.

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