Que ninguém se sinta obrigado a ler este blog... a sério, só o fiz para ver como é, para publicar aquilo que me vem à cabeça... o que nem sempre é interessante. Ne vous sentez pas obligés de lire ce blog... je l'ai fait uniquement comme expérience, pour publier ce que je considère intéressant. Et tout est relatif. Surtout l'intéressance. Bref, bienvenue à mon blog! Bem-vindos ao meu blog!

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Teatro = momento de liberdade?


Comentário que pus no post do Esquisito "Teatro e Vida. Representação e realidade"

Eu encaro o Teatro como um jogo. Uma oportunidade de viver a vida de outra forma, sem implicações, sem compromissos, onde (quase) tudo é permitido e sem consequências de maior. Também é poder lidar com aquelas facetas que todos temos escondidas, veladas pelo teatro que fazemos no dia-a-dia com o intuito de dar de nós próprios aquela imagem que pensamos ser a mais aceite por aqueles que nos rodeiam; poder libertar e ficar a conhecer emoções já ressentidas directa (por experiência própria) ou indirectamente (por experiência alheia), usá-las para a criação duma personagem que só existirá naquele momento em que a representamos através do nosso próprio corpo e da nossa experiência de vida. A meu ver o Teatro pode portanto ser visto nestes dois aspectos: como Arte no processo de criação duma personagem, de transmissão de emoções; ou como jogo, brincadeira de faz de conta, aventura, experiência noutra dimensão.

imagem: recorte do cartaz para a 7ª edição da Mostra de Teatro de Almada (tirada de http://lazer.publico.clix.pt/artigo.asp?id=145346) estes dias decorre a 10ªed!!!

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

anonimato

Hoje de manhã saí de casa para a faculdade. Cedinho, ainda não havia ninguém na rua e ainda não se sentia o cheiro a pequeno-almoço. (Pois, porque em Afama cheira-se a comida à hora das refeições, sopa, carne assada, peixe grelhado, etc… ou café, torradas…). Ia portanto a descer a rua para a autocarro, em zigzag entre passeio (molhado, escorregadio, com uma inclinação de 45º para a direita) e a estrada (cheia de cocós de cão, vá-se lá saber porquê, e com carros de vez em quando, mas menos inclinada e menos escorregadia), passaram-me à frente vários jovens (tipo nos vintes, quase trintas), altos, de mochila às costas, a dar grande passadas. De repente abre-se a porta de um prédio, mesmo na altura em que eu ia a passar e sai outro gigante. Eu olho para ele (apanhei um susto com a porta a abrir-se assim de repente), ele olha para mim (violinos), continuei a andar e ele passou-me à frente com as tais grandes passadas. Era negro, alto, de mochila e tinha óculos. Via-o a andar lá à frente, enfim, descíamos os dois a rua, a uns dez metros de distância um do outro e vejo-o a virar à esquerda, para umas escadinhas por onde costumo descer (shortcut) para apanhar o autocarro. Sigo-o, que remédio, e instala-se algum embaraço: eu com a desagradável sensação de quem segue sem querer (neste caso sem alternativa) alguém, sentindo que esse alguém tem a sensação de estar a ser seguido mas tenta disfarçar. Espero ter-me feito entender. Ouviam-se os nossos passos a descer as escadas e a ruela. Ao chegar à rua principal (aquela do ISPA) penso: é um ISPAíno, vai virar à esquerda. Não, vira à direita, como eu. Decido atravessar a estrada. Ele atravessa também e passa-me à frente. Ao virar da esquina vejo-o a correr para apanhar o 90. Que pára nos Restauradores. É o que eu quero. Corro também. No autocarro sento-me no fundo. Nos Restauradores ele levanta-se. Saímos os dois. Ele parte noutra direcção e eu entro no Metro. Vejo-o a aparecer por outra entrada. No cais, fico numa das pontas (é o que dá mais jeito a quem depois apanha o comboio em 7rios), vejo-o a ir para o meio, começo a pensar no meu horário e na teórico-prática de Bioquímica (que acabei por não ter, levantei-me às tantas para nada), chega o metro, entro, blablabla. Jardim Zoológico. Saio do metro, com a multidão matinal, e quem é que me passa à frente ao subir as escadas? Foi aí que o vi diluir-se e desaparecer no mar de gente. Ao chegar à Linha 4 (comboio para Coina, lindo nome...) olhei à minha volta. Não podia deixar de fixar estupidamente todos os indivíduos negros, altos, de óculos, mochila. Pena não ver ao longe. Penso que se o reconhecesse no cais do outro lado da linha até lhe acenava. Ou ficava a olhar para o chão, constrangida por este anonimato citadino que todos temos a mania de manter a todo o custo. Ou então sacava do telemóvel a ver de sms. Inutilmente desligado.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

publicidade...

Pois é, até custa acreditar… encontro-me em frente ao monitor de um PC… COM NET!!! E com tempo para escrever!! Já agora aproveito para informar os estimados leitores que neste momento, apesar de não ter publicado nada desde dia 14, se encontram vários posts em curso (na minha mente brilhante). Não sei se alguém se deu ao trabalho de ler os excertos de Primo Levi que publiquei… refiro-me, obviously, ao pessoal do Liceu Francês, visto que chegámos a dar um livro dele na 3ème (acho eu).

Já agora explico porque publiquei aqueles excertos (arriscando-me a levar com um processo de direitos de autor!!!). Há imenso tempo que não ficava realmente (e duravelmente, mas ainda não passou tempo suficiente para o comprovar) marcada por um livro, e este é daqueles que me deixam a pensar em cada capítulo. Provavelmente por ter passado por Auschwitz, e também, como é evidente, por ter imenso talento literário, é impossível ficar indiferente a todas as reflexões que o Primo Levi faz ao longo do livro, enquanto judeu na 2ª guerra mundial. Fiquei com vontade de saber mais sobre ele (uma biografia do Primo Levi é um dos novos posts a considerar =P). Pode não ter nada a ver com nada, mas ele suicidou-se no ano em que nasci. Só que em Abril. Não, não tem, realmente, nada a ver com nada.
Please, leiam pelo menos o último excerto ("fin"). Como disse num dos posts, não me chega ter lido, preciso que outros também o leiam…

fin

«Des enfant adultes et sauvages, mûris dans les privations, dans l'isolement, dans les campements et dans la guerre. Désorientés au seuil de l'Occident de la paix. Voilà, sous leurs bottes vingt fois rafistolées, le sol de l'ennemie, de l'exterminatrice, l'Allemagne-Deutschland-Dajcland-Niemcy: une campagne propre, nette, pas touchée par le guerre, mais attention, ce n'est là qu'une apparence, la véritable Allemagne, c'est celle des villes, celle entrevue à Glogau et à Neuhaus, celle de Dresde, de Berlin et de Hambourg dont on leur avait raconté le sort effroyable. C'est celle-là la véritable Allemagne, celle qui s'était soûlée de sang et avait dû payer; un corps prostré, blessé à mort, déjà en décomposition. Nu. En même temps que la joie barbare de la vengeance, ils éprouvaient une gêne nouvelle, comme celui qui découvre une nudité interdite.
Des deux côtés de la route se voyaient des maisons aux fenêtres condamnées, pareilles à des yeux clos ou qui ne veulent pas voir; quelques-unes de ces maisons avaient encore leur toit de chaume, d'autres n'en avaient plus, ou bien il avait brûlé. Des clochers en ruine, des stades où déjà poussait de la mauvaise herbe. Dans les agglomérations, des tas de décombres avec des écriteaux où on lisait: "Ne pas marcher ici: corps humains". De longues queues devant les rares boutiques ouvertes, et des habitants du lieu s'affairant à effacer ou à ôter à coups de marteau les symboles du passé, ces aigles et ces croix gammées qui devaient durer mille ans. Aux balcons flottaient d'étranges drapeaux rouges: on y voyait encore la trace du svastika noir décousu en toute hâte; mais bientôt, à mesure que les gédalistes poursuivaient leur chemin, les drapeaux se firent plus rares et finirent par disparaître.
Gédal dit à Mendel:
– Si ton ennemi tombe, ne te réjouis pas; mais ne l'aide pas à se relever.»
Primo Levi, Maintenant ou jamais

"Dix pour un..."

«Ils progressèrent dans la nuit, aussi vite qu'ils le purent, avec le remords de cette trop facile vengeance, et aussi le soulagement de se dire que tout était fini.[...] Mendel était en tête du groupe, entre Line et Gédal.
– Vous les avez comptés? demanda Line.
– Dix, répondit Gédal. Deux près de la porte, un que Mottel a tué dans l'escalier, sept dans la salle du conseil.
– Dix pour un, dit Mendel. Nous avons fait comme eux: dix otages pour un Allemand abattu.
– Ton compte est faux, dit Line. Les dix de Neuhaus ne doivent pas être portés au compte de Rokhélé, mais à celui des millions de morts d'Auschwitz. Souviens-toi de ce que nous a raconté la Française.
– Le sang, dit Mendel, ne se paie pas avec le sang. Le sang se paie avec la justice. Celui qui a tiré sur la Noire est une bête humaine, et je ne veux pas devenir une bête. Si les Allemands ont tué par le gaz, devrons-nous aussi tuer tous les Allemands par le gaz? Si les Allemands tuaient dix hommes pour un et qu'on faisait comme eux, on deviendrait comme eux, et il n'y aurait plus jamais de paix.
Gédal intervint:
– Tu as peut-être raison, Mendel. Mais alors comment ça se fait que je me sens mieux maintenant?
Mendel réfléchit un moment:
– Oui, moi aussi, je me sens mieux, admit-il enfin, mais ça ne prouve rien. À Neuhaus, c'étaient des réfugiés de Dresde. Smirnov nous a raconté: à Dresde, il y a eu cent quarante mille morts en une seule nuit. Cette nuit-là, à Dresde, ça flambait tellement que la fonte des lampadaires a fondu.
– Ce n'est pas nous qui avons bombardé Dresde! dit Line.
– Assez! dit Mendel. Ça a été la dernière bataille. Marchons plus vite, allons chez les Américains.»
Primo Levi, Maintenant ou jamais

terça-feira, fevereiro 14, 2006

E 28

há certas imagens em que vale a pena clicar para ver em grande

táxi no semáforo (tenho um fascínio por aquela varanda)



a já referida veranda e semáforo


esperando pelo 28 (a tal varanda lá ao fundo)


mosteiro de São Vicente desde o eléctrico (já não aparece a varanda)


limoeiro

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

dernières lectures

Il fallait que j'en transcrive quelquels passages. Comme dit mon père, c'est tellement fort que ça ne suffit pas de les avoir lu.

"j'étais le mécanicien du kolkhoze..."

«J'étais le mécanicien du kolkhoze, et mon boulot me plaisait. Les montres, je les réparais "en privé", à temps perdu: il n'y en avait pas beaucoup, mais tout le monde avait un fusil, et je réparais aussi les fusils. Et si tu veux savoir comment il s'appelle, mon village, il s'appelle Strelka, comme tout un tas d'autres patelins; et si tu veux savoir où c'est, je te dirais que ce n'est pas loin d'ici, ou plutôt que «ce n'était», parce que ce Strelka-là n'existe plus. La moitié des habitants s'est égaillée dans la campagne et dans les bois, les autres sont dans une fosse, et ils n'y sont pas à l'étroit, parce que beaucoup étaient déjà morts avant d'y être jetés. Dans une fosse, oui; ils ont dû la creuser eux-mêmes, les juifs de Strelka; mais dans la fosse, il y a aussi des chrétiens, et entre eux, maintenant, il n'y a pas tellement de différence. Il faut que tu saches que moi qui te parle, moi, Mendel l'horloger qui réparais les horloges du kolkhoze, j'avais une femme, et qu'elle est dans la fosse, elle aussi; il faut aussi que je te dise que je m'estime heureux de ne pas avoir eu d'enfants. Il faut encore que tu saches que ce village qui n'existe plus, je l'ai maudit plus d'une fois, parce que c'était un village de canards et de chèvres, et qu'il y avait une église et une synagogue mais pas de cinéma; et maintenant, quand j'y repense, cela me semble le Paradis terrestre et je me couperais bien une main pour que le temps fasse marche arrière et que tout redevienne comme avant.»
Primo Levi, Maintenant ou jamais

"ils pensent aussi que quand un homme vaut plus qu'un autre, il a le droit d'en faire ce qu'il veut, de cet autre..."

« - Pourquoi les Allemands veulent-ils tous vous tuer?
- Difficile à expliquer, dit Mendel. Il faudrait comprendre les Allemands, et moi je n'y suis jamais arrivé. Les Allemands pensent qu'un juif vaut moins qu'un Russe et un Russe moins qu'un Anglais, et qu'un Allemand vaut plus que tous les autres; ils pensent aussi que quand un homme vaut plus qu'un autre, il a le droit d'en faire ce qu'il veut, de cet autre, même un esclave ou de le tuer. Peut-être bien qu'ils ne sont pas tous convaincus, mais c'est des choses qu'on leur apprend à l'école, et c'est ces choses-là que raconte leur propagande.
- Je crois qu'un Russe vaut mieux qu'un Chinois, dit Piotr, pensif. Mais si la Chine laissait la Russie tranquille, il ne me viendrait pas à l'idée de tuer tous les Chinois.
-Moi, au contraire, dit Mendel, je crois que ça n'a pas beaucoup de sens de dire qu'un homme vaut plus qu'un autre. Un homme peut être plus fort qu'un autre, mais moins savant. Ou plus instruit mais moins courageux. Ou plus généreux mais aussi plus bête. Si bien que sa valeur dépend de ce qu'on attend de lui; un type peut être très fort dans son métier, et ne plus rien valoir si on l'oblige à en faire un autre.»
Primo Levi, Maintenant ou jamais

"Pourquoi vivre davantage, pourquoi combattre?"

«La faim se faisait sentir: non pas celle, douloureuse, terrible, dont Leonid et d'autres avaient souffert dans les lagers allemands de l'arrière, mais une faim nostalgie, une envie sourde de légumes frais, de pain tout juste sorti du four, d'une nourriture peut-être simple, mais choisie selon le caprice du moment. Une autre nostalgie, un autre regret, celui du pays et du foyer se faisait aussi sentir, obsédant pour tous, déchirant pour les juifs. Pour les Russes, le regret du foyer, c'était aussi une espérance raisonnable, probable même: un désir de retour, un rappel. Pour les juifs le regret de leur foyer n'était pas un espoir mais un désespoir, enseveli jusqu'alors sous des souffrances plus urgentes, plus intolérables encore. Un désespoir toujours latent. Leurs foyers, leurs maisons n'existaient plus: ils avaient été jetés bas, incendiés par la guerre, ensanglantés par les massacre perpétrés par les commandos de chasseurs d'hommes, maisons tombes, auxquelles il valait mieux ne pas penser, maisons de cendres. Pourquoi vivre davantage, pourquoi combattre? Pour quelle maison, pour quelle patrie, pour quel avenir?»
Primo Levi, Maintenant ou jamais

"Les Allemands ne nous étaient pas sympathiques non plus, mais on pensait qu'ils étaient venus pour faire justice..."

«- Ma fille, les choses, ici chez nous, ne sont pas aussi simples. Dans ce village, par exemple, les juifs et les polonais ont vécu ensemble pendant je ne sais combien de siècles, mais ils n'ont jamais sympathisé. Les Polonais peinaient dans les champs, les juifs, eux, étaient artisans ou commerçants, ils encaissaient le loyer des terres pour le compte des propriétaires et, à l'église, le curé disait que c'était eux qui avaient trahi le Christ et l'avaient crucifié. Nous n'avons jamais répandu leur sang, mais quand les Allemands sont arrivés en 1939, et qu'ils ont d'abord commencé à spolier les juifs, à se moquer d'eux, à les frapper et à les enfermer dans des ghettos, je dois dire la vérité...
[...]
... je dois dire la vérité, tout le monde a été content. Les Allemands ne nous étaient pas sympathiques non plus, mais on pensait qu'ils étaient venus pour faire justice, ou enfin pour prendre l'argent des juifs et nous le donner.
- Ils étaient donc tellement riches, les juifs de Zborz? demanda Gédal.
- Tout le monde disait que oui. Ils étaient mal habillés, mais les gens disaient que c'était parce qu'ils étaient avares.
[...]
Mais les choses sont devenues encore plus compliquées après, quand les Allemands ont donné des fusils aux Ukrainiens pour qu'ils les aident à massacrer les juifs (au lieu de ça, les Ukrainiens tiraient sur nous et emmenaient notre bétail) [...] Sur vous autres, j'ai changé d'avis après, quand j'ai vu de mes yeux ce que les Allemands ont fait aux juifs d'Opatow.
- Qu'est-ce qu'ils leur ont fait? demanda Mendel.
- [décrit le massacre] Voilà! À voir les enfants tués de cette façon j'ai commencé à comprendre que les juifs sont des gens comme nous, et que les Allemands auraient fini par nous faire ce qu'ils leur avaient fait. Et je vous raconte ça parce que quand on se trompe, il est bon de reconnaître ses erreurs, et aussi parce que vous avez fauché le seigle et arraché les pommes de terre.
[...]
- Tu ne sais pas tout. Il y a d'autres choses, tellement horribles que tu ne les croirais pas, et pourtant elles ont eu lieu non loin d'ici. Ne se sauvent que ceux des nôtres qui ont choisi de faire comme nous.
- Je me suis tout de suite aperçu de ça aussi, oui, que vous êtes armés.
[...]
-Pour nous aussi, les choses ne sont pas simples, dit Gédal. On est juifs, et on est russes, et on est partisans. En tant que Russes, on aimerait bien attendre que le front arrive jusqu'ici, et puis se reposer un peu et retourner chez nous, mais nos maisons n'existent plus, ni nos familles; [...] En tant que partisans, notre guerre est différente de celle des soldats, et tu le sais bien: elle ne se fait pas au front, mais dans le dos de l'ennemi. En tant que juifs, nous avons une longue route devant nous. Qu'est-ce que tu ferais, toi, en tant que maire, si tu te trouvais tout seul, à mille kilomètres de chez toi, et que tu savais que ton village, et tes champs, et ta famille n'existent plus?
- Je suis vieux, et je crois bien que je me pendrais à une poutre. Mais si j'étais plus jeune, j'irais en Amérique: comme mon frère qui a eu plus de courage que moi et qui a vu plus loin.
- Bien dit. Même parmi les juifs, il y en a qui ont des parents en Amérique et qui désirent aller les rejoindre. Mais dans notre groupe personne n'a de parents en Amérique: notre Amérique n'est pas si loin. Nous combattrons jusqu'à la fin de la guerre, parce que nous croyons que la guerre est une chose affreuse, mais que tuer les nazis est la chose la plus juste qu'on puisse faire aujourd'hui à la surface de la terre. Et puis nous irons en Palestine, et nous essaierons d'y bâtir la maison que nous avons perdue et de recommencer à vivre comme vivent tous les autres. C'est pour ça qu'on ne s'arrêtera pas ici et qu'on continuera de marcher vers l'ouest, pour être toujours derrière les Allemands et trouver le chemin qui nous mènera vers notre Amérique.
[...]
- Qu'est-ce que vous allez faire en Palestine?
- Cultiver la terre, dit Line. Là-bas, la terre sera à nous.
- Vous serez des paysans, alors? demanda le maire. Vous faites bien d'aller loin d'ici, mais ce n'est pas bon d'être des paysans. C'est un sale travail.
- Nous irons vivre comme vivent tous les autres peuples, dit Line [...]. On fera tout ce qui y aura à faire.
- Sauf d'encaisser les loyers pour les propriétaires des terres, ajouta Gédal.»
Primo Levi, Maintenant ou jamais

bouc émissaire

«La guerre, c'est surtout une grande confusion sur le champ de bataille et aussi dans la tête des hommes: très souvent on ne comprend même pas qui a gagné et qui a perdu, ce sont les généraux et ceux qui écrivent les livres d'histoire qui le décident après coup.»

«Autrefois, au jour des pardons, les juifs prenaient un bouc; le grand prêtre posait les mains sur la tête de la bête, énumérait tous les pêchés commis par le peuple et les lui attribuait, l'en chargeait: c'était lui le coupable, lui seul. Puis il le chassait, le poussait dans le désert, chargé des pêchés qu'il n'avait pas commis. "Les Gentils font la même chose, se disait Mendel. Eux aussi ont un animal, un agneau qui prend sur lui tous les pêchés du monde. Pas moi, je n'y crois pas. Si j'ai pêché je porte le poids de mes pêchés, rien que de ceux-là, et j'en ai de reste. Je ne porte pas les pêchés des autres"»

Primo Levi, Maintenant ou jamais

"Je voulais seulement savoir si, sur cette terre d'Israël où vous voulez aller, ils voudront aussi de moi."

«Piotr se leva comme un écolier qu'on interroge; tout le monde rit, il se rassit et dit:
- Je voulais seulement savoir si, sur cette terre d'Israël où vous voulez aller, ils voudront aussi de moi.
- Ils te prendront sûrement, dit Mottel. Je te ferais un mot de recommandation, et tu n'auras pas besoin de changer de nom, ni de te faire circoncire. [...]
On entendit la grosse voix de Pavel:
- Écoute-moi, le russe: le nom n'a aucune importance, mais fais-toi circoncire. Profite de l'occasion. Ce n'est pas tellement une affaire de pacte avec Dieu, c'est plutôt comme pour les pommiers. Si on les taille au bon moment, ils poussent bien droit et donnent plus de pommes.
Rokhélé la Noire eut un long rire nerveux; Bella se dressa toute rouge et déclara qu'elle n'avait pas fait des kilomètres et des kilomètres et couru tant de dangers pour entendre des propos pareils. Piotr regardait autour de lui, intimidé et gêné.
Puis, sérieuse comme toujours, Line parla à son tour:
- Bien sûr qu'ils te prendront, même sans la recommandation de Mottel. Mais pourquoi veux-tu venir avec nous?
- Eh bien, commença de dire Piotr, encore plus gêné, les raisons sont nombreuses...
Il leva la main, le petit doigt en l'air, comme font les russes quand ils commencent à compter:
- Premièrement...
- Premièrement? répéta Dov, encourageant.
- Premièrement je suis croyant, dit Piotr, avec le sourire de celui qui a trouvé un bon argument.
- Got, scenk mir an òysred! cita Mottel en yiddish.
Ils éclatèrent de rire, Piotr les regarda, froissé.
- Qu'est-ce que tu as dit? demanda-t-il à Mottel.
- C'est une façon de dire à nous. Ça se traduit par: «Seigneur Dieu, envoie-moi une bonne excuse.» Tu ne vas tout de même pas nous faire croire que tu veux rester avec nous parce que tu crois au Christ? Tu es partisan et communiste, et tu n'as pas tellement l'air de croire au Christ. Et puis on ne croit pas au Christ, nous autres; et on ne croit même pas tous en Dieu.
Piotr le croyant proféra en russe quelques injures bien senties et reprit:
- Vous compliquez les choses comme personne. Bon, je ne sais peut-être pas vous expliquer, mais c'est vraiment ça. Je veux rester avec vous parce que je crois au Christ, et allez tous vous faire voir avec vos distinctions.
Il se leva, l'air offensé, et se dirigea vers la porte d'un pas décidé, comme pour partir, mais il fit demi-tour:
- Et j'ai encore une bonne dizaine de raisons de rester avec votre bande de crétins. Parce que je veux voir le monde. Parce que je me suis disputé avec Oulybine. Parce que j'ai déserté, et que s'ils me prennent ça finira mal pour moi. Parce que j'ai baisé vos putes de mères, et parce que...
Quand il en fut là, on vit Dov courir vers lui comme s'il voulait lui sauter dessus, mais, au contraire, il le serra dans ses bras, et les deux hommes se martelèrent le dos de coups de poing affectueux.»

Primo Levi, Maintenant ou jamais

terça-feira, fevereiro 07, 2006

manhã d'inverno

na praça do comércio a caminho de 7rios

cais de lx ao nascer do sol (do comboio)


cais... tremido

balco picanino puxando balco glande

nascer do Sol na margem Sul

de volta ao fim da tarde...


segunda-feira, fevereiro 06, 2006

5 primeiras frases, Cintura Industrial e tempo perdido

5 1as frases:
«O homem que conduz a camioneta chama-se Cipriano Algor, é oleiro de profissão e tem sessenta e quatro anos, posto que à vista pareça menos idoso. O homem que está sentado ao lado dele é o genro, chama-se Marçal Gacho, e ainda não chegou aos trinta. De todo o modo, com a cara que tem, ninguém lhe daria tantos. Como já se terá reparado, tanto um como o outro levam colados ao nome próprio uns apelidos insólitos cuja origem, significado e motivo desconhecem. O mais provável será sentirem-se desgostosos se alguma vez vierem a saber que aquele algor significa frio intenso no corpo, prenunciador de febre, e que o gacho é nada mais nada menos que a parte do pescoço do boi em que assenta a canga.»

Cintura Industrial
«Deixaram a Cintura Agrícola para trás, a estrada, agora mais suja, atravessa a Cintura Industrial rompendo pelo meio de instalações fabris de todos os tamanhos, actividades e feitios, com depósitos esféricos e cilíndricos de combustível, estações eléctricas, redes de canalizações, condutas de ar, pontes suspensas, tubos de todas as grossuras, uns vermelhos, outros pretos, chaminés lançando para a atmosfera rolos de fumos tóxicos, gruas de longos braços, laboratórios químicos, refinarias de petróleo, cheiros fétidos, amargos ou adocicados, ruídos estridentes de brocas, zumbidos de serras mecânicas, pancadas brutais de martelos de pilão, de vez em quando uma zona de silêncio, ninguém sabe o que se estará produzindo ali.»

tempo perdido
«Cipriano Algor pôs a furgoneta em andamento. Distraíra-se com a demolição dos prédios, e agora queria recuperar o tempo perdido, palavras estas insensatas entre as que mais o forem, expressão absurda com a qual supomos enganar a dura realidade de que nenhum tempo perdido é recuperável, como se acreditássemos, ao contrário desta verdade, que o tempo que criámos para sempre perdido teria, afinal, resolvido ficar parado lá atrás, esperando, com a paciência de quem dispõe do tempo todo, que déssemos pela falta dele.»

excertos de A Caverna de José Saramago

Luz

Ontem à noite enquanto eu estava a jantar passou a minha mãe no corredor: "Passo a vida a apagar luzes!". É mais uma daquelas frases que depois me ficam a trautear na cabeça. Sobretudo a um dada hora da noite, em que quero dormir (e TENHO de dormir por causa do exame do dia seguinte) mas o meu cérebro funciona a 300 à hora e não há meio de parar de pensar.
Fez-me lembrar aqueles senhores do século passado (ou de há dois séculos atrás?) que passavam na rua ao cair da noite para acender os candeeiros a gás e de madrugada para os apagar. Afinal também há, ou houve, que passe a vida a pagar luzes... Também fiquei a pensar em como o conceito de luz, e a sua utilização, evoluíram.

Há já alguns anos (não me lembro de quantos milhões) o ser humano descobriu e aprendeu a controlar o fogo (o Homo Erectus, não era?) e desde essa altura o fogo ficou sinónimo de presença humana, protecção contra o frio e os animais selvagens. Também era fonte de luz, essencial para o Homem. Aquela presença indispensável para a sobrevivência assim como o movimento perpétuo das chamas tinham algo de mágico. O fogo tanto pode ser símbolo de Luz, de Vida (de sobrevivência) como de queimadura, incêndio, morte. Na Bíblia o fogo é visto como elemento regenerador. Também pode ser usado para desinfectar feridas, ou queimar ervas daninhas para tornar o campo mais fértil. Neste caso, elemento regenerador no sentido de destruir o que é nocivo para dar lugar a… a quê? [fiquei sem palavras... são coisas que acontecem.] (também poderia fazer alusão aos autos de fé). Mas estou-me a afastar da luz.
Antes usava-se portanto o fogo como fonte luminosa, actualmente temos a luz eléctrica. Lembro-me de testemunhos, em livros, sobre africanas que sempre viveram em "palhotas", nas suas "reservas", e que descobrem a luz eléctrica das grandes cidades:

«Elle n'était pas encore en sécurité, loin de là, mais elle était entourée de dangers familiers. Après tout le temps passé dans la brousse, elle les trouvait bien moins angoissants que les mines terrestres. Elle songea à grimper à un arbre pour y atteindre l'aube, mais quelque chose attira son regard dans le noir.
C'était une lumière, une lumière brillante. Elle brillait plus que cent feux. Elle venait de la première maison au-delà de la frontière du Zimbabwe.
[...]
Pleine d'émerveillement, Nhamo se fraya un chemin dans la forêt. Il y avait plusieurs lumières fixées au toit d'une grande maison carrée et elles illuminaient une prairie entourée d'une clôture. Nahmo essaya de les regarder directement mais elles brillaient trop. Elles lui faisaient mal aux yeux.»
Elle s'appelait Catastrophe, de Nancy Farmer

«Devo ter dormido durante horas, apesar de ser acordada em sobressalto cada vez que a camioneta dava um salto maior, porque quando despertei mesmo, já anoitecia. Olhei em frente e deparou-se-me uma vista perfeitamente mágica. Ao longe, na distância, estendia-se uma enorme extensão de luzes. Luzes bonitas, de todas as cores. Umas mexiam-se, outras acendiam e apagavam. Eu nunca tinha visto nada assim.
- Olhem! Olhem! – gritei eu, abanando as outras para acordarem. – Olhem! Não há lua. Então de onde vem esta luz toda? – Nas Montanhas Nuba não havia electricidade e, portanto, eu pensava que toda a luz tinha de vir do sol, da lua, ou então de uma fogueira.
[...]
Tivemos de nos segurar com toda a força. Algumas casas tinham muitos andares, todos com as janelas iluminadas por uma luz brilhante, amarela. Mas eram os candeeiros de iluminação pública que mais nos intrigavam. Passávamos por essas filas de postes pretos plantados no cimento, com luzes redondas no topo, como se fossem sóis pequeninos. Não fazíamos a mais pequena ideia do que seriam.
- Olhem! Olhem! – gritei eu de novo. – Essa árvores devem dar frutos de luz! Vamos chamar-lhes «árvores-luz».»
Escrava de Mende Nazer e Damien Lewis

No entanto, actualmente há a preocupação de poupar energia (daí a minha mãe a apagar as luzes todas quando chega a casa) e talvez até haja luz a mais. É com efeito cada vez mais difícil encontrar um lugar adequado para ver as estrelas, sem "poluição luminosa" (expressão deveras reveladora...). Lembro-me também de um amigo dos meus pais, suíço (oriundo desse "primeiro mundo" que é a Europa do Norte =P), maravilhado com Alfama à noite, com os seus candeeiros de luz fraca e amarelada sem ainda meios suficientes para ter aquela luz branca, lívida, violenta, das lâmpadas de néon e dos candeeiros modernos.

Com efeito, para quê tentar imitar a luz do dia durante a noite? Para quê gastar tanta energia se estes candeeiros antigos de Alfama são suficientes para se poder ver os próprios pés e as fachadas das casas? Por questões de segurança? Não é por os candeeiros serem fortes que deixa de haver recantos sombrios susceptíveis de esconder qualquer intenção nefasta. Até os tornam mais sombrios ainda. Há esse "medo do escuro" e da penumbra que torna uma luz quase violenta (falsa imitação do dia e do sol) reconfortante... Já agora mais vale tirar partido da capacidade natural que têm os olhos humanos para se adaptarem ao escuro, em vez de a inibir.

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