Que ninguém se sinta obrigado a ler este blog... a sério, só o fiz para ver como é, para publicar aquilo que me vem à cabeça... o que nem sempre é interessante. Ne vous sentez pas obligés de lire ce blog... je l'ai fait uniquement comme expérience, pour publier ce que je considère intéressant. Et tout est relatif. Surtout l'intéressance. Bref, bienvenue à mon blog! Bem-vindos ao meu blog!

segunda-feira, março 12, 2007

A Imagem

O Sol batia forte, todas as mesas da esplanada tinham o guarda-sol aberto. Era um Verão de céu muito azul. Ele era bem parecido, mas como estava de óculos escuros eu não lhe podia ver os olhos. Bebia uma imperial e olhava para a que eu imagino ser a namorada. Ela também era bonita, não tinha óculos mas luz não a parecia incomodar. Olhava para ele mas não o parecia ver. O queijo da sandes que tinha na frente amolecia lentamente mas ela também não se parecia incomodar com isso. Eu estava duas mesas mais longe e não ouvia tudo o que diziam. Praticamente só ouvia a voz dela.

-
Sabes, compreendo-te. Mas eu demorei mais de um ano a esquecê-lo.
- ... [resposta do homem, que não ouvi]
-
Foi tudo muito rápido, tinha ido passar férias com amigos que o conheciam e que não deixavam de falar nele. Tinha-se tornado popular, de repente, por ter ganho um prémio com o projecto de arquitectura. E eu que quase o tinha esquecido. A imagem dele voltou em força. Com aquela estúpida obsessão embrulhada em esperança. Foi o suficiente para me estragar os últimos dias de praia. Lembro-me do preciso momento em que tudo acabou. Quando cheguei a casa, ele ligou-me. Falei com ele, não me lembro de quê. Só sei que no momento seguinte percebi. É estúpido, este fenómeno é tão banal... Percebi que a imagem que tinha povoado os meus sonhos, que me tinha estragado as férias e muito mais antes disso, que ocupava os meus pensamentos de cada vez que eu ouvia as letras de certas músicas foleiras, que surgia sempre que comentavam o projecto de arquitectura... que tinha sido a causa daquelas lágrimas adolescentes e desiludidas... não era a dele.
- blablabla [outra resposta do homem, que não ouvi]
-
Não, não eras tu, só apareceste na minha vida 6 ou 7 meses depois, não é disso que estou a falar. Era a imagem de alguém que não existia. Que nunca tinha existido. Uma imagem criada por mim, baseada nos sentimentos que eu pensava ainda ter por ele.
- ...
blabla... ?!
-
A sério... nesse momento senti-me libertada. Dei-me conta que estava apaixonada por uma imagem virtual. Daí aquela espécie de frustração nas poucas vezes que o via. Porque a realidade já não correspondia ao que eu tinha idealizado. ... De quê é que te estás a rir?
-
pffffbla...
-
Sim eu sei, é ridículo, concordo contigo... Mas já podes parar de rir...
- blabla... blablablabla... blablablaaaaahaahahahahahahahhahaha!!!!!!!! Pfaaaahahahahahahahaha!!!!! Mulheres
[foi a única palavra dele que percebi]...! Hihihihi.... blahaha. Hehe. He.

Ele estava sozinho à mesa. Tentava livrar-se dos pedaços amarelos do queijo derretido que se tinham agarrado à barba de três dias. Na testa tinha a marca da baguette, entretanto poisada em cima da mesa. As duas metades do pão ainda estavam ligadas à T-shirt dele por longos fios de queijo gorduroso. O amor tem destas coisas.

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