MC Bué. Um dia foi lá a casa. Ao fim de alguns minutos de tranquila cavaqueira, cerveja e
tremoços, o meu pai perguntou-lhe se tinha nascido em Luanda.
- Não cota, nasci na Amadora.
- Não nasceste em Angola?!...
- Eu não, cota! Sou puro tuga mesmo…
- Mas os teus pais são angolanos, é claro…
- Não, não são! São da Amadora, os dois…
- Essa agora! Tu falas como se fosse angolano. Tens sotaque luandense e tudo…
- Ah, cota, no meu bairro só tinha manos. Na escola também. Era eu e mais cinco pulas. Melhor,
quatro pulas e um cigano. A gente escolhia entre ser cabo-verdiano ou ser angolano. Eu escolhi
ser angolano. »
As Mulheres do Meu Pai, José Eduardo Agualusa