Que ninguém se sinta obrigado a ler este blog... a sério, só o fiz para ver como é, para publicar aquilo que me vem à cabeça... o que nem sempre é interessante. Ne vous sentez pas obligés de lire ce blog... je l'ai fait uniquement comme expérience, pour publier ce que je considère intéressant. Et tout est relatif. Surtout l'intéressance. Bref, bienvenue à mon blog! Bem-vindos ao meu blog!

sábado, março 28, 2009

Faculdade de Medicina

Os móveis de outros tempos acumulam-se nos outrora ilustres corredores,
por onde passaram bandos de alunos de medicina ainda excitados com o
cheiro a sangue das aulas práticas. Alguns, prateleiras envidraçadas,
ainda exibem instrumentos que tanto poderiam ser de tortura como de
progresso. Ou dos dois. Alambiques, macas com suportes estranhos,
aparelhos esquisitos, com quadrantes e ponteiros a indicar valores
misteriosos, frascos nos quais se pode imaginar órgãos a boiar na sua
eternidade de formol. Há um átrio em que se instalou uma sala de aulas
do século passado (isto digo eu), com as mesas alinhadas, a apanhar
poeira perante os olhares esporádicos, apressados e indiferentes dos
raros investigadores que por aquele piso ainda passam, a caminho do
microscópio de fluorescência.
Dentro das salas estão instrumentos sofisticados, ainda a brilhar,
constante e freneticamente limpos pelas empregadas de azul. São brancos
ou cinzentos, de plástico e de polímeros complicados. Alguns ainda têm
o autocolante com o símbolo da UE, comprados com o apoio de fundos
comunitários. Nos corredores alinham-se os enormes e ainda majestosos
móveis de madeira, cuja perene escuridão contrasta com a deslumbrante,
fria, e precisa eficiência da moderna paisagem laboratorial que se
vislumbra pelas portas entreabertas.
Os velhos olham-nos de cima, com as suas sábias portadas de madeira
trabalhada ou com inúmeras gavetinhas de etiquetas cegas. Tristes?
Condescendentes? Irónicos? …«Sim, sim, hoje és o futuro. Ou achas que
és o futuro. Que és fundamental para o resto da humanidade e que por
isso é que não paras. Não olhes para mim, prossegue o teu caminho na tua
bata branca, que te dá um ar tão profissional e competente. Como se não
te quisesses imaginar no meu lugar. Não pares para pensar. Não precisas…
já sabes, um dia estarás aqui... no dia em que ficares arquivada a um
canto à espera que alguém decida a fazer-te desaparecer dos olhares do
mundo hás-de te lembrar de mim.»

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